Morada: Praça Dom Pedro IV, nº 21

Telefone: 21 346 81 91

E-mail: tabacariamonaco@sapo.pt

Fundador: João César Vieira da Cruz

Proprietário actual: Carlos Oliveira

Artigos: Vende tabacos, jornais e revistas nacionais e estrangeiros.

Decoração: Autores do projecto: Arq. Rosendo Carvalheira (1894), Pedro dos Reis (escultura), Frederico Augusto Ribeiro (mobiliário), António Ramalho (pinturas). Rafael Bordalo Pinheiro (pintura de azulejo). Alguns dos materiais da decoração: pedra mármore, vidro simples, fosco e pintado, madeira exótica, azulejo (Faianças Artísticas das Caldas). O interior contém pinturas e azulejos de Bordallo que deixou neste local, outrora de “cavaqueira”, a rã fumadora, a cegonha leitora e uma decoração de fios telefónicos em alusão ao telefone público que ali existiu (um dos primeiros telefones ligado à rede geral…), a que não faltam andorinhas, numa decoração naturalista que lhe era característica. Notável o candeeiro em bronze sobre o balcão e os móveis em madeira exótica. No exterior, dois painéis de composição figurativa, aplicados verticalmente, de monocromia azul-cobalto sobre fundo branco, delimitados por uma moldura em amarelo, representando animais com gestos humanos, femininos, quotidianos e socialmente distintos, tratados com ironia e em alusão ao consumo de produtos vendidos na tabacaria: rãs e cegonhas seguram caixas de rapé. No interior, silhar de azulejos figurativos em monocromia azul em fundo branco, servindo de enquadramento inferior um rodapé saliente em mármore rosado e de enquadramento superior o remate em madeira exótica de um expositor encastrado na parede; os motivos de inspiração são idênticos aos da azulejaria exterior desta feita surgindo de novo rãs e cegonhas que lêem os jornais da capital de maior tiragem, uma fábula que mostra rãs e aves imitando gestos urbanos, como ler e fumar. A aplicação de azulejos surge ainda nas paredes do nicho que enquadra para lavatório (antiga bica que “chorava” águas de Sintra, de Caneças e de Moura): azulejos relevados, do tipo das Caldas, com motivos em nenúfar e rã estilizados formando padrão policromo. Os expositores e balcão são executados em madeiras nobres.

A Tabacaria Mónaco constitui um exemplar quase único duma tabacaria do fim do século XIX, sendo um dos poucos estabelecimentos comerciais da sua época que mantém a actividade inicial, bem como a decoração interior e o mobiliário sem alterações. Apresenta uma decoração concebida no seu todo, quer no aproveitamento do espaço quer na sua concepção estética, revelando um hibridismo que provém não só do eclectismo dos elementos decorativos utilizados (pintura naturalista, mobiliário neoclássico, caixilharias neo-góticas, entalhamentos neo-barrocos) como também da inspiração buscada em ambientes intimistas religiosos (capelas) ou domésticos (habitação). Em todo o projecto da tabacaria salienta-se a integração das artes, visto vários artistas se proporem a trabalhar em conjunto; a ideia da unidade das artes. A azulejaria, da Fábrica das Caldas e com desenho de Rafael Bordallo Pinheiro, ilustram a vertente caricaturista deste artista, numa corrente minoritária em termos de produção de azulejos no século XIX. “O tecto é um fresco de Ramalho, bordado num desses momentos azues do rien faire.”, segundo a imprensa da época.

A arquitectura de interiores e o mobiliário desenhado por Rosendo Carvalheira, com notáveis trabalhos de marcenaria, talha, desenhos entalhados nas madeiras e ferragens artísticas;  a pintura do tecto em abóbada de berço por António Ramalho (um céu com núvens e andorinhas) e também as flores e ramagens (folhas de tabaco?) pintadas a óleo sobre espelhos; os azulejos de Rafael Bordalo Pinheiro;  as esculturas decorativas em bronze, de Pedro C. Reis. Os nichos para as águas de Cintra (sic), Caneçase de Moura, ou para o telefone – e este deu lugar à espantosa “instalação” das linhas com andorinhas de louça e porcelanas isoladoras. Tudo no exíguo cubículo da tabacaria e quase exactamente conservado até hoje.

E a mostra alarga-se ainda mais aos estudos para os azulejos, em pequenos desenhos à pena e ampliações a lápis, de Bordalo Pinheiro, a ensaios em azulejo para as molduras da porta (produção da Fábrica das Caldas); à reprodução fotográfica dos painéis interiores, com desenhos alusivos ao  tabaco (charutos, caixas de rapé , cachimbos) e aos jornais, sempre protagonizados pelas cegonhas e sapos. E ainda à publicação comemorativa da inauguração, às referências da imprensa do tempo, etc. Mais do que uma sensibilidade Arte Nova, há aqui um sincretismo despreocupado de estilos, um gosto burguês ao mesmo tempo interessado pela modernidade e tradicionalista, cosmopolita e regionalista, para o qual a arte e os artesanatos artísticos convivem com elegância e humor. (in IHRU, Ex-DGEMN)

Protecção: Monumento de Interesse Público (2016). Consta do Inventário Municipal (nº 27.29) anexo ao PDM e está inserida na Lisboa Pombalina classificada Conjunto de Interesse Público (2012) e na lista das lojas classificadas pelo Programa Lojas com História (2017)

Curiosidades: Em 1893, a tabacaria sofreu obras de remodelação e ampliação do espaço interior na zona posterior, dirigidas pelo arquitecto Rosendo Carvalheira, sendo baptizada de Tabacaria Mónaco em homenagem ao respectivo príncipe que na altura visitou Lisboa e cujo busto se encontra no interior da tabacaria. Tornou-se logo ali uma das tabacarias mais célebres da Baixa, sendo frequentada por artistas, intelectuais e políticos da época como Eça de Queirós, Rafael Bordalo Pinheiro, João de Deus, Trindade Coelho, Gualdino Gomes, Marcelino Mesquita, Gomes Leal, Henrique Lopes Mendonça, Brito Camacho, João de Menezes, Faustino da Fonseca, Fialho de Almeida, etc. Em 1916, Júlio Vieira da Cruz trespassa a Mónaco a José Rodrigues Marecos, proprietário da tabacaria Marecos na Rua 1º de Dezembro.

Horário de funcionamento: Aberta de 2ª Feira a 6ª Feira das 9h às 19h. E aos Sábados, das 9h às 13h.