A Sapataria Lord era uma das mais belas e mais fotografadas lojas de Lisboa, era uma loja “cinematográfica”, uma obra total do arq. Raul Tojal, em que tudo foi pensado ao detalhe, da montra ao mobiliário. O espaço interior era, como hoje, forrado ao fundo por uma estante preenchida de cima a baixo com 16 fileiras de caixas de sapatos, e, do lado esquerdo de quem entra, por um armário-vitrine a toda a altura da parede, preenchido com chapéus e caixas de chapéus. À frente deste, um balcão-vitrine com chapéus e gravatas. Ao centro da loja, um armário-vitrine com sapatos de senhora. O resto da decoração Déco-modernista: um pequeno balcão alto com telefone, uma série de cadeiras e pequenos bancos de prova, espelhos e apliques sobre ramagens. O chão era em parquet. 

Na fachada, o material do revestimento do cunhal e da aba que une as sacadas é ainda em pedra preta serrada, e o resto em marmorite preta. A porta, contendo 12 óculos semi-circulares, e os aros das 6 montras (incluindo as 2 montras curvilíneas ladeando a porta) são em ferro (tal como as grelhas geométricas de ventilação da cave) revestido a cobre. As letras da fachada são em latão pintado. As montras (hoje sem cortina para a loja mas com fundo rectangular com grandes óculos ao centro, onde se exibem sapatos ou malas) eram forradas a capitoné, tendo ganho vários concursos. Na quina exterior, o emblema da firma em folha de metal pintado: o “Lord” e a sua caleche, entretanto já desaparecido.

O seu último proprietário foi o Grupo Godiva Sapatos, que não aceitou a proposta de deslocalização por 3 anos, que o senhorio lhe propôs até que terminassem as obras de transformação do edifício, que, entretanto, ainda nem começaram.

Mais uma perda irreparável para Lisboa, o desaparecimento desta chapelaria-sapataria (a “Lord” abriu como chapelaria de homem em 1941 mas rapidamente começaria a vender também sapatos, gravatas e malas, confeccionando os seus próprios chapéus. Tinha oficina de chapelaria e eram famosas as suas caixas altas para chapéus e a marca Luiz XV, e respectivo logótipo em cor azul) que sofreu várias alterações no seu interior da década de 40 até aos nossos dias, mas sem nunca perder o seu traço déco-modernista.

Constava do Inventário Municipal anexo ao PDM (nº 48.146). Muito triste.

Fotos © Artur Lourenço